sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O Museu - Parte 1

"O que é isso?", consegui dizer.
O homem me olhou por um momento e depois disse:
"Isso é um alargador de boca!", disse.
Colocou-o em minhas mãos. Acho que ele percebeu que eu tremia. Apesar do meu desconforto diante dele, minha curiosidade estava à flor da pele. A engenhoca lembrava um aparelho usado por dentistas para manter nossa boca aberta, no entanto, parecia ser simples de colocar e possuía correias que se afivelavam à nuca.
"E isso é um flagelador!"
"Flagelador.", repeti, enquanto olhava para aquele chicote com cabo de bambu envernizado que terminava em inúmeros fiapos de couro. Foi colocado em minhas mãos ao lado do 'alargador'. Aquela coisa servia para nada a não ser açoitar.
"E antes que você me pergunte, minha mulher está atrás daquela porta!"
Olhei para uma porta escura com um quadro pendurado no meio. Voltei a olhar para o homem moreno de bigode volumoso e barriga proeminente. Seu semblante era sereno. Não pareceu notar ou ligar para o meu nervosismo e tive vontade de perguntar-lhe "Por que? Por que faz isso com sua mulher?", mas temi que ele voltasse atrás na decisão de contratar-me.
"Não... não quer ver?", perguntei a ele.
Ele sorriu.
"Ela me contará depois!"

Caminhei em direção à porta. Joelhos bambos. Repassei mentalmente a cena dele me abordando diante de uma obra de Di Cavalcanti. Sua mulher estava ao seu lado e sorriu para mim enquanto ele me perguntava se "eu gostava de arte". As pernas torneadas de sua mulher, e a pele branca tatuada no seu tornozelo ficaram tão evidentes que foi-me impossível disfarçar o olhar. Ruborizei. Antes de eu me desculpar, aquele homem elegante me perguntou:
"Do que mais você gosta?"
E agora eu estava em uma antesala de sua casa, prestes a entrar num ambiente controlado, para açoitar "da forma que eu quisesse" sua esposa. Era esse o seu desejo. Era esse o desejo dela.
Estava perto o suficiente para divisar um pictograma dentro de um quadro pendurado à porta. Não entendia nada de símbolos mas acreditaria se alguém me dissesse que aquele era um símbolo mágico. Vindo de algum círculo de bruxaria, escondido das pessoas.
"Você tem preconceitos?", perguntou-me ele no museu.
Respondi que não, mas agora não tinha mais certeza.
Girei a maçaneta e abri a porta.



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