quarta-feira, 1 de abril de 2015

O Museu - Parte 4

PÂNICO. Foi o que senti nos primeiros momentos após o incidente com o casal do museu. Pânico em ser processado e preso por tortura e tentativa de homicídio. Eles tinham minhas imagens, porra! Sou pobre, eles são ricos. E têm a minha imagem gravada! Pensei em tomar alguma droga. Ir à polícia e contar minha versão primeiro. Era como se eu estivesse me ouvindo dizendo que fora “seduzido, drogado e induzido a fazer aquilo”.
Mas então eu pensei no quanto me pagaram. Eu nunca ganhei tanto, em tão pouco tempo. Dois mil e quinhentos paus, por uma tarde inteira! Só mesmo um louco para pôr fim numa possibilidade tão lucrativa quanto esta. Mas tudo isso estava agora tão distante quanto a estrela que via agora no céu. Deixei passar uma relação que poderia render-me muito dinheiro, e quiçá, poderia mudar minha vida. Tudo por conta de um bacorejo que eu pouco conhecia.
Então o pânico esmoreceu e deu lugar à culpa.
Em minha vida eu nunca tive a intenção deliberada de machucar quem quer que fosse. Homem ou mulher. Até mesmo minhas palavras eram medidas com cuidado, antes que fossem disparadas para observar ou criticar.
E, no entanto, açoitei uma mulher. Tirei sangue dela!
Não foram apenas chicotadas corretivas. Foram chicotadas perversas! Uma parte de mim sentiu prazer naquilo. E por isso, eu tinha agora a certeza de que não me conhecia.
Nem tive a chance de me desculpar. Simplesmente saí daquele lugar mal iluminado, acovardado por um cheque polpudo e pela possibilidade de chatear ainda mais meu contratante. Tampouco virei-me para vê-la uma última vez.
Tomei um gole de um vinho barato e pensei em qual poderia ter sido a reação deles. O que teriam dito um ao outro depois que saí daquela casa? Teria o homem se desculpado a ela pelo equívoco de ter levado um estranho à sua casa? Teriam cogitado processar-me e caçar-me como um rato?
Até o momento em que entrei no quarto escuro, acreditei ter deixado a melhor das impressões. Mas elas se dissiparam ao primeiro estalo do flagelador.
E restou então a certeza de que havia um sádico naquele recinto. Alguém que se deliciou com o grito vindo daquela doce criatura acorrentada ao teto. Um prazer que nunca havia experimentado antes e que fora tão breve quanto fora destruidor.
Foi incrível, mas efêmero. E acabou por deixar marcas nela e em mim. Não valia a pena senti-lo de novo.
Outro gole do vinho deixou meus músculos um pouco mais relaxados. Fui até meu tocador e ajustei-o para tocar “Poema”, de Cazuza. Descobri que era exatamente aquilo que gostaria de ouvir naquele momento, e agradeci a Cazuza com um pensamento bom, antes de adormecer.